Das paisagens frágeis às terras excluídas dos sertões secosA desertificação no sub-médio São Francisco, Bahia-Brasil

  1. Matos Cardoso Vale, Raquel
Dirixida por:
  1. Augusto Pérez Alberti Director

Universidade de defensa: Universidade de Santiago de Compostela

Fecha de defensa: 30 de novembro de 2018

Tribunal:
  1. Emma Pérez-Chacón Espino Presidente/a
  2. Xosé Luis Otero Pérez Secretario
  3. Luis Alberto Longares Aladrén Vogal
Departamento:
  1. Departamento de Xeografía

Tipo: Tese

Resumo

A Região de Planejamento e Gestão das Águas dos rios Macururé e Curaçá, localizada no sub-médio curso do Rio São Francisco, é o recorte geográfico para o estudo da desertificação que atinge a porção NE do estado da Bahia (Brasil). Parte-se do princípio, que este processo resulta de um conjunto multifacetado de desequilíbrios socioambientais insustentáveis e da insuficiente presença do Estado. Para alcançar tais objetivos, ou seja, identificar os processos de degradação na região, foram utilizados os indicadores sociais, econômicos, biológicos, físicos, e do uso do solo, conduzidos na perspectiva da análise integrada, diacrônica e sincrônica da paisagem. Foi gerado um banco de dados multitemático para avaliar os indicadores da situação socioeconômica; do comportamento multitemporal dos índices de vegetação NDVI e EVI; da evolução temporo-espacial das superfícies transformadas por atividades humanas e remanescentes de vegetação; e características das unidades geomorfológicas. Estes dados foram processados em SIG e geraram modelos espaciais para espacializar os processos de desertificação. A RPGA-MC se caracteriza por ser historicamente pouco assistida pelo Estado e por uma base econômica, dependente da pecuária extensiva e da agricultura de sequeiro de subsistência. Este contexto criou uma dinâmica de baixa sustentabilidade socioambiental, que retroalimenta, e tem gerado degradação contínua e desertificação. A análise de dados socioeconômicos apresentou resultados muito negativos. A agricultura familiar predomina na região, sendo que a lavoura temporária, sobretudo a de sequeiro, é praticada em todos os municípios, enquanto a irrigada é restrita a calha do São Francisco. O uso das terras é, no entanto, prioritariamente voltado para a pecuária extensiva, principal, senão única atividade produtiva rural para o conjunto das populações. As pastagens naturais são vitais e ocupam extensões de terras muito grandes, sustentando um rebanho superior a 1 milhão de cabeças, 92% formado por caprinos e ovinos. São estes animais, principalmente, que têm provocado maior dano nas caatingas e ampliado as áreas de pastejo extensivo. O reflexo é a existência de um processo de transformação da vegetação que tem levado ao declínio da capacidade de suporte das caatingas. O grau de ocupação e transformação é bastante expressivo e, cerca de 75% da região, encontra-se nesta condição. Os modelos gerados pela integração multitemporal dos índices de vegetação delinearam o comportamento sazonal da vegetação, acentuadamente dinâmico, corroborando a premissa da alta sensibilidade da caatinga aos episódios de secas, ou seja, da frágil ecogeografia da região. As atividades rurais são realizadas em função das potencialidades locais e das possibilidades de produção da população. As depressões são ocupadas por pecuária extensiva, o tabuleiro abriga grandes remanescentes de caatinga e as serras e os maciços residuais, habitats geomorfológicos. As Unidades de Paisagem, discriminaram células, núcleos de desertificação, e remanescentes de caatingas, para além de outras unidades menores. Os resultados guardam semelhança e convergência com aqueles apresentados na revisão da literatura especializada. As evidências do processo são observadas nas células e nos núcleos de desertificação e possibilitaram afirmar que esta região apresenta indicadores de degradação severa, suficientes, para integrar a lista dos Núcleos de Desertificação do Semiárido Brasileiro.