Dom Quixote, uma aventura crítica (e apologética)

  1. Luís Garcia Soto 1
  1. 1 Universidade de Santiago de Compostela
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    Universidade de Santiago de Compostela

    Santiago de Compostela, España

    ROR https://ror.org/030eybx10

Journal:
Anuário de literatura: Publicaçao do Curso de Pós-Graduaçao em Letras, Literatura Brasileira e Teoria Literária

ISSN: 1414-5235

Year of publication: 2017

Volume: 22

Issue: 1

Pages: 55-71

Type: Article

DOI: 10.5007/2175-7917.2017V22N1P55 DIALNET GOOGLE SCHOLAR lock_openDialnet editor

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Abstract

No presente texto, queremos interpretar o Quixote de Cervantes desde o ponto de vista da filosofia moral. Para isso, faremos uso de duas categorias próprias da conceção da filosofia de Adorno: a crítica e a apologia. Em nossa opinião, na perceção da realidade de Dom Quixote há uma ideia de justiça que se enquadra num ideário que inclui alguns elementos transgressores a respeito da moral e a política do seu contexto histórico. Relacionaremos esses elementos transgressores com dois destacados contributos do pensamento ibérico moderno: o ius gentium e o casuísmo. Em nosso ver, Dom Quixote luta pela paz e o entendimento na política e pela liberdade de consciência na moral. Em aparência, ele fracassa sempre. Mas, em seus fracassos, às vezes ganha e às vezes perde. Por uma parte, vence quando luta contra um fato: ele erra na perceção e age de conformidade com o seu erro, mas, ao fazer isso, mostra que uma mudança é possível num dado estado de fatos moral e/ou político. A derrota de Dom Quixote implica uma crítica: ele atacou a construção social da realidade sustida e mantida pelos poderes do seu tempo. Por outra parte, Dom Quixote perde quando luta com um ídolo teatral: ele erra também, não se dá conta de que está perante uma criação dos poderes vigentes. Nestes casos, as suas derrotas significam uma dupla vitória dos poderes do seu tempo: na ordem dos fatos e na ordem das crenças. Porém, mesmo nestes casos, é possível desconstruir essa apologia. Graças ao humor de Cervantes, as/os leitoras/es podem desconstruir essa apologia e ver crítica nas aventuras de Dom Quixote.