Programa de prevenção das toxicodependêndias no ensino superior

Resumo

Diversos estudos epidemiológicos apontam para a necessidade de investir na prevenção do consumo de substâncias entre os 16 e os 18 anos, designadamente junto da população universitária, em particular em relação aos consumos intensivos de álcool. Vários autores defendem que as universidades possuem um papel crucial na prevenção do uso de drogas (incluindo o álcool) e danos associados. Dada a magnitude do problema que representa o consumo de drogas entre universitários, as suas consequências e a necessidade de atuar precocemente, é alarmante a falta de investimento na prevenção. O presente estudo tem como objetivo a construção e validação de um programa de prevenção das dependências e comportamentos aditivos - Riscos & Desafios ¿ dirigido a estudantes do ensino superior. Para tal, foi utilizada uma amostra de 228 estudantes do primeiro ano da Universidade do Minho. Este estudo incluiu um desenho experimental, com grupo experimental e de controlo, com medições pré, pós-teste e seguimento (6 meses depois do final da implementação do programa). Para além da recolha dos dados de caracterização sociodemográfica, de dados relativos ao consumo de substâncias psicoativas e à sexualidade, os instrumentos de avaliação que utilizamos foram: AUDIT (Babor et al,1989), Escala de Autocontrolo (Wills et al., 2007), Escala de Sensation Seeking versão V (Zuckerman, 1978), Questionário de Vivências Académicas (Almeida e Ferreira, 1997), Escala de Autoestima Global de Rosenberg (Rosenberg, 1965) e Inventário de depressão de Beck (Vaz Serra & Pio Abreu, 1973). Os resultados encontrados possibilitaram validar o Programa Riscos & Desafios na medida em que este permitiu reduzir o consumo expresso de álcool entre estudantes universitários e diminuir fatores de risco e promover fatores de proteção para o consumo de substâncias psicoativas. De facto, a intervenção preconizada ao longo desta investigação alcançou os objetivos propostos na medida em que os efeitos preventivos junto dos jovens alvo de intervenção foram significativos a vários níveis: (a) no consumo recente de bebidas espirituosas e de cerveja, (b) nas Expetativas para o Consumo de Cannabis e de Álcool, (c) na Desregulação Emocional (e.g., Tensão e Raiva), (d) nas Vivências Académicas (e.g., Dimensões Pessoal e Interpessoal), (e) na Autoestima e (f) na Depressão. Desta forma, uma importante constelação de variáveis relacionadas com o bem-estar dos jovens universitários, nomeadamente o consumo de substâncias, foi positivamente abrangida pela presente intervenção. Os resultados do presente estudo permitem concluir que o programa preventivo utilizado consegue prevenir o consumo de drogas em alunos universitários a frequentar o primeiro ano. Verifica-se que os estudantes alvo de intervenção referem uma diminuição significativa no consumo de cerveja, de bebidas espirituosas e nos valores das Expetativas para o Consumo de Cannabis e de Álcool, 6 meses depois da intervenção. Por outro lado, os estudantes que não foram alvo de intervenção mostram maior disponibilidade percebida em relação ao acesso a substâncias psicoativas. Para além disso, constata-se, nos sujeitos alvo do programa preventivo em análise, um aumento significativo dos valores da dimensão pessoal e interpessoal das vivências académicas e da autoestima e uma diminuição significativa nos valores da depressão e das escalas da raiva e da tensão ao nível da desregulação emocional.