Stress pós-traumatico e qualidade de vida da família do doente crítico

  1. Pinho Da Silva, José António
Supervised by:
  1. Juan Jesús Gestal Otero Director
  2. Carlos Sequeira Director
  3. Adolfo Figueiras Guzmán Director

Defence university: Universidade de Santiago de Compostela

Fecha de defensa: 13 June 2014

Committee:
  1. Julián Álvarez Escudero Chair
  2. Agustín Montes Martínez Secretary
  3. Carlos Menéndez Villalva Committee member
  4. Alvaro José Barbosa Moreira da Silva Committee member
  5. José Carlos Marques Carvalho Committee member
Department:
  1. Department of Psychiatry, Radiology, Public Health, Nursing and Medicine

Type: Thesis

Abstract

Com o desenvolvimento das ciências da saúde, das tecnologias e da assistência em saúde, verifica-se que as pessoas vivem mais tempo, mas por vezes com maior morbilidade e dependência, o que implica um envolvimento significativo dos familiares para lidarem com esta situação e para prestarem cuidados às pessoas dependentes. O internamento de uma pessoa numa UCI, devido a um motivo urgente, implica habitualmente uma elevada dependência e por conseguinte uma necessidade de substituição e de ajuda na maioria das atividades básicas de vida diária. Este facto, associado à agressividade do ambiente numa UCI, caraterizada pela prevalência da Tecnologia, ao medo sobre o futuro, à incerteza da recuperação, à presente ideia de morte, implicam uma alteração da harmonia familiar, que podem ter como consequências problemas de saúde mental significativos nos familiares destes doentes. Numa UCI, o principal foco de atenção é o doente, atendendo à gravidade, a necessidade de recursos, ficando o familiar cuidador para segundo plano. Na maioria das vezes este é um mero expetador de uma situação complexa, que não compreende e não sabe como lidar, gerador de elevado stress, ansiedade, sobrecarga e sintomatologias psiquiátricas. As principais necessidades do familiar centram-se ao nível da informação, do conforto, do apoio, da presença e da gestão da ansiedade, pelo que é fundamental consciencializar os profissionais de saúde, principalmente os enfermeiros para esta problemática, de modo a que possam intervir na sua prevenção com programas de intervenção sistematizados e adequados às necessidades da Pessoa. É fundamental passar do modelo biomédico, centrado na doença, ao modelo biopsicossocial centrado nas necessidades da pessoa, tendo como alvo o doente e o familiar cuidador. O papel da enfermagem pode ser significativo neste domínio atendendo à sua proximidade com a díade ¿ doente/familiar, que tem condições para fornecer informação e apoiar a família de forma gradual e em função das necessidades da mesma. A finalidade deste estudo é avaliar a efetividade de um modelo de intervenção, centrado nas necessidades do familiar cuidador, implementado de forma sistematizada, essencialmente, em termos de diminuição do stress pós-traumático e melhorias na qualidade de vida. Neste estudo procedeu-se igualmente à avaliação da sobrecarga e da sintomatologia psiquiátrica. Trata-se de um estudo de ensaio controlado, efetuado de forma longitudinal, com dois grupos de familiares cuidadores ¿ grupo de estudo e grupo de controlo, com dois momentos de avaliação ¿ 24 a 48 horas pós internamento e dois meses após a alta da UCI. Utilizaram-se como instrumentos de avaliação: um questionário com questões sociodemográficas dos doentes e familiares cuidadores; níveis de dependência e gravidade dos doentes e escalas validadas para a população portuguesa que nos permitem avaliar ¿ i) Qualidade de vida (World Health Organization Quality of Life ¿ WHOQOL-BREF); ii) Sobrecarga (escala de sobrecarga do cuidador - ESC); iii) Sintomatologia psiquiátrica (Brief Symptom Inventory ¿ BSI) e iv) Stress pós-traumático (The Impact of Event Scale ¿ IES-R). Participaram no estudo 141 doentes e familiares cuidadores, dos quais 71 integraram o grupo de estudo e 70 o grupo de controlo. Estes doentes foram internados na UCI devido a um motivo urgente do foro neurocirúrgico, têm uma média de idade de 67 anos e elevada dependência e gravidade. Os familiares cuidadores são mais jovens com uma média de idade de 50 anos, maioritariamente mulheres, com baixa escolaridade, casados, empregados e pertencem a uma classe social média-baixa. Na análise de dados verificamos que o impacto da intervenção de enfermagem realizada no grupo de estudo se traduziu em: i) redução do Stress pós-traumático, sintomatologia psiquiátrica e sobrecarga; ii) melhoria dos níveis da qualidade de vida; iii) da avaliação no 1º momento e da avaliação no 2º momento verifica-se uma evolução positiva no grupo de estudo (diminui stress pós-traumático, a sintomatologia psiquiátrica, a sobrecarga e aumentou a qualidade de vida) e uma evolução negativa no grupo de controlo (aumentou o stress pós-traumático, a sintomatologia psiquiátrica, a sobrecarga e diminuiu a qualidade de vida); iv) as diferenças entre os dois grupos num 2º momento de avaliação são estatisticamente significativas, o que traduz a efetividade da implementação do modelo de intervenção; v) a dependência do doente revela uma associação positiva com o stress pós-traumático, a sintomatologia psiquiátrica e com a sobrecarga, e uma associação negativa com a qualidade de vida; vi) a implementação do modelo de intervenção traduz-se em ganhos significativos para o doente, para o familiar e para o Serviço Nacional de Saúde. Face aos resultados encontrados sugerimos a implementação deste modelo em todas as unidades do país, envolvendo as instituições e os diferentes profissionais de saúde. Este procedimento facilitaria a prestação de cuidados do familiar cuidador, a diminuição do impacto negativo do internamento numa UCI, quer em termos de stress pós-traumático, quer em termos de qualidade de vida.