Da contrafaçao da representaçao à (im)possibilidade dos génerosterritórios estéticos autorais, problemática do desencontro com as práticas da recepçao na literatura e no cinema
- Castro Domingues da Silva, Inês María de
- Américo António Lindeza Diogo Director
- Ángel Abuín González Director
Universidade de defensa: Universidade de Santiago de Compostela
Fecha de defensa: 13 de decembro de 2011
- Dario Villanueva Prieto Presidente
- J. Carlos Quiroga Díaz Secretario
- Anabela Dinis Branco de Oliveira Vogal
- Carmen Becerra Suárez Vogal
- José Antonio Pérez Bowie Vogal
Tipo: Tese
Resumo
Este trabalho de investigação, estruturado em quatro partes ¿ «Da representação à construção de mundos», «O princípio da indeterminação», «Estratégias do falso: a perda da inocência», «A leitura do caos» ¿ partiu da percepção de que os discursos artísticos, sejam eles literários ou cinematográficos, excêntricos relativamente aos modelos naturalizados tanto pela tradição académica quanto pela indústria cultural, provocam um efeito de estranhamento da leitura, gerando uma clivagem de públicos e uma limitação da recepção. Interessava-nos analisar esse fenómeno que cruza entronização autoral com a elitização de públicos enquanto problema hermenêutico passível de ¿tratamento¿ escolar, identificando características reportáveis a uma obstaculização da leitura das obras. Delimitámos, assim, um corpus ¿ as obras de João César Monteiro, Maria Velho da Costa, Edgar Pêra e Gonçalo M. Tavares ¿ que consideramos paradigmático tanto da diferença face a modelos de representação estandardizados quanto da coincidência de idiossincrasias estéticas. Na primeira parte, procurámos reconstituir os ¿mundos¿ ético-estéticos indelevelmente autorais, salientando o facto destes se demarcarem do real para se afirmarem como arte, explorando, consequentemente, os diálogos intertextuais como mecanismos de filiação no campo artístico. Investigámos, pois, as modalidades de referenciação ontológica das narrativas destes autores para descobrirmos nelas a perversão da autenticidade na diegese que sustentam, procurando demonstrar como a representação é derrogada em favor da objectualização da substancialidade textual (literária ou fílmica), sublinhando a inconsistência da realidade como matéria para construções narrativas verosimilhantes. Na segunda parte, analisámos os vários dispositivos de ambiguação ¿ indefinição de fronteiras entre a arte e a vida, fragmentação e entropia narrativa, mutação genológica, diálogo intermedial ¿ que relativizam o real e o ficcionado gerando indeterminação discursiva e inviabilizando tanto a sedimentação de uma ontologia quanto a sua credibilidade como representação. Este princípio erosivo que marca a obra dos quatro autores terá que ver com uma inconsistência ontológica e teleológica tipicamente pós-moderna, onde a experiência da realidade e do sentido dela deixou de apresentar uma coerência integradora para ser uma construção subjectiva marcada pela ambiguidade. Na terceira parte, mapeámos os diversos processos de desvelamento dos mecanismos narrativos que deslocam a representação para o espaço aberto da visibilidade textual, expondo a construção como autenticidade estética e rejeitando a verosimilhança como verdade da arte. Este efeito desrealizante que ostenta a mentira tem uma clara intenção de reforçar a procedência autoral, desmistificando a representação através de diversas estratégias de evidenciação do artifício: o riso, a teatralidade, o discurso metaficcional e a paratextualidade. O falso é instituído como princípio activo contra esse engodo canónico da verosimilhança, validando-se a si próprio como sendo o verdadeiro da arte. Na quarta parte, depois de explanarmos como estas obras operam no domínio da contrafacção da representação e da (im)possibilidade dos géneros, reflectimos sobre as consequências no lado a jusante chamado recepção, procedendo a um levantamento dos problemas hermenêuticos decorrentes da frustração dos protocolos de leitura e apontando a aprendizagem em contexto escolar como um caminho para a descoberta desses estranhalizados mundos estéticos.