Mais mole que manteiga (da realidade à utopia na sátira política medieval galego-portuguesa)

  1. MARCONDES E FERREIRA DE TOLEDO, MARLEINE PAULA
Dirixida por:
  1. Xosé Bieito Arias Freixedo Director

Universidade de defensa: Universidade de Vigo

Fecha de defensa: 19 de setembro de 2018

Tribunal:
  1. María Alegría Fernandes Marques Presidente/a
  2. Carlos Nogueira Secretario/a
  3. Mariña Arbor Aldea Vogal

Tipo: Tese

Resumo

MAIS MOLE QUE MANTEIGA" (da realidade à utopia na sátira política medieval galego-portuguesa) Tavani (Repertorio metrico della lirica galego-portoghese) classifica vinte e três cantigas do cancioneiro de burlas da literatura medieval galego-portuguesa como sirventeses políticos. Sirventeses, por serem composições satíricas que seguem o modelo do sirventès ou serventois provençal. Políticos, porque seu temário diz respeito à atividade política. A pesquisa mostra que o repertório é mais extenso do que o apontado por Tavani. No contexto dessas sátiras, além de outras questões, estão principalmente dois fatos da História peninsular, na Idade Média: a luta contra os mouros e a guerra civil em Portugal, que culminou na deposição de D. Sancho II, substituído por seu irmão, D. Afonso III, o Conde de Bolonha. O quadro que essas composições satíricas apresentam, de medo, traição, ingerência, ganância, contrapõe-se frontalmente aos ideais do tempo, presentes em toda a produção géstica mais ou menos coeva, exemplificada no Poema do Cid e na presumível gesta de D. Afonso Henriques. Isso faz do sirventês político um discurso contestatório. O panorama configurado por tais cantigas parece próximo do real, se levarmos em conta textos históricos apoiados em farta documentação da época. Por outro lado, historiadores citam a sátira política como fonte para esclarecer alguns pontos obscuros na historiografia oficial, ou para corroborar certas posições ideológicas. Esse fato autoriza qualificar o sirventês político como um discurso documental. A intenção dos satiristas é também fortemente conativa. Apresentam os vícios e defeitos da práxis política, porque têm em vista as virtudes contrárias. Esse raciocínio leva a tratar o sirventês político como um discurso persuasório pelo avesso, que usa amplamente os processos retóricos nesta direção. Sendo um discurso persuasório, o sirventês político tem em mira uma utopia, que, em vista da ambiguidade imanente a toda espécie satírica, pode encaminhar-se para dois sentidos bem diferentes. Sem muitos questionamentos, as cantigas acenam, num jogo de contrários, para a utopia “oficial”, de recuperação dos valores da época: pátria, monarquia, nobreza, religião, virtudes cavaleirescas e viris. Indo, porém, mais a fundo, a visão niilista da realidade que decorre delas em bloco pode acenar para uma sociedade alternativa, em que o poder político seria substituído pelo poder moral. Nesse sentido, as sátiras políticas apontam para uma utopia radical, de tabula rasa da sociedade de então, a fim de restaurar uma espécie de beatitude paradisíaca, como permite inferir o complexo mítico – herético – cristão, que compunha o referencial sagrado da Idade Média. Castellano Tavani, en el Repertorio metrico della lirica galego-portoghese (1967), clasifica veintitrés (23) cantigas del cancionero burlesco de la literatura medieval galaico-portuguesa como sirventeses políticos. Sirventeses, pues son composiciones satíricas que siguen el modelo del "sirventès" o "serventois" provenzal. Políticos, porque sus temas apuntan a la actividad política. Esta investigación muestra que el repertorio es más extenso que el aportado por Tavani. En el contexto de estas sátiras, además de otras cuestiones, están presentes principalmente dos hechos de la Historia peninsular en la Edad Media: la lucha contra los musulmanes y la guerra civil en Portugal, que culminó con la deposición de Don Sancho II, sustituido por su hermano, Don Alfonso III, Conde de Boloña.
 El sirventés político es un discurso contestatario. También un discurso documental. La intención de los satíricos es fuertemente conativa. Ese razonamiento lleva a considerar a los sirventeses políticos como un discurso de convicción, al revés, que usa ampliamente los elementos retóricos en este estilo.
 Siendo un discurso de convicción, el sirventés político tiene una perspectiva utópica, que, teniendo en cuenta la ambigüedad inmanente a toda creación satírica, puede encaminarse por dos sentidos bien diferentes. Sin muchos cuestionamientos, las cantigas apuntan, en un juego de contrarios, a la utopía oficial, de recuperación de los valores de la época: patria, monarquía, nobleza, religión, virtudes caballerescas y viriles. Dejando ver, sin embargo, más en el fondo, esa visión nihilista de la realidad que se devela en ellas, en bloque, puede apuntar hacia una sociedad alternativa, en la que el poder político sería sustituido por el poder moral. En ese sentido, las sátiras políticas señalan una utopía radical, de tabla rasa, para la sociedad de entonces, a fin de restaurar una especie de beatitud paradisíaca, como permite inferir el complejo mítico-herético-cristiano que compone el ideal sagrado de la Edad Media.